Má-nutrição no Brasil 2006-2021: tendências e desigualdades em intersecções de gênero, raça/cor da pele e classe social
Nome Completo:
Claudia Cristina Vieira Pastorello
Unidade da USP:
Faculdade de Saúde Pública
Programa de Pós-Graduação:
Nutrição em Saúde Pública
Nível:
Doutorado Direto
Resumo:
A tese "Má-nutrição no Brasil 2006–2021: tendências e desigualdades em intersecções de gênero, raça/cor da pele e classe social" evidenciou como a má-nutrição evoluiu e se comportou na população Brasileira no período explorado. O estudo analisou dados nacionais e das capitais brasileiras ao longo de 15 anos para compreender como esses problemas evoluíram e quais intersecções sociais foram mais afetadas pela obesidade, excesso de peso e baixo peso. Os resultados mostraram que o crescimento da obesidade desacelerou após 2012, um sinal positivo de que políticas públicas, como o Guia Alimentar para a População Brasileira e o fortalecimento da atenção básica contribuíram para conter o avanço da obesidade. No entanto, a desigualdade persistiu: mulheres negras com baixa renda e escolaridade continuavam sendo as mais afetadas pela obesidade, enquanto homens pardos apresentavam prevalência crescente de baixo peso a partir do ano de 2017. Também foi notável que, ao contrário das mulheres, o acúmulo de vulnerabilidades sociais na população do sexo masculino estava relacionado a uma menor prevalência de obesidade, o que sugeriu que homens e mulheres brasileiros estão em momentos distintos da transição da obesidade. Essas iniquidades não são apenas diferenças casuais ou biológicas. Elas refletem uma injustiça social evitável, e revelam o impacto do racismo, do classismo, e do sexismo sobre a alimentação e a saúde. Quando há menos equidade no acesso a alimentos saudáveis, à educação e a oportunidades de trabalho, a má nutrição se torna uma expressão da injustiça social. A tese propôs, portanto, que o combate às desigualdades na obesidade e à fome deve ser feito de forma integrada — não apenas com ações na área da saúde, mas também com políticas interseccionais de renda, educação, igualdade racial e valorização da cultura alimentar brasileira. Os achados ajudam a sociedade a compreender que enfrentar a má nutrição é mais do que mudar hábitos individuais: é lutar por condições de vida justas para todos. A pesquisa reforça a importância de manter e ampliar políticas públicas de alimentação saudável, segurança alimentar e combate à pobreza. Além disso, defende que a vigilância nutricional continue sendo aprimorada com uma visão interseccional, para que ninguém seja deixado para trás. Em suma, esta tese mostra que o Brasil avançou, mas ainda precisa garantir que todas as pessoas tenham acesso a uma alimentação adequada, saudável e digna para mitigar a má-nutrição. Uma sociedade que cuida da sua alimentação com justiça e equidade é também uma sociedade mais saudável e sustentável.