Da Razão Comunicativa À Emoção Compartilhada: novas mídias, fragmentação da esfera pública e crise da democracia
Nome Completo:
Kleber Henrique Facchin
Unidade da USP:
Faculdade de Direito
Programa de Pós-Graduação:
Programa de Pós-Graduação em Direito, na área de Filosofia e Teoria Geral do Direito
Resumo:
Nos últimos anos, vem ganhando força um movimento global de desprestígio à democracia e ascensão da extrema-direita, com base em pautas reacion. Com uma estrutura aberta e horizontal, mas ao mesmo tempo segmentada em bolhas que quase não se comunicam, as plataformas digitais provocaram uma nova mudança estrutural na esfera pública, com desdobramentos que deterioram a democracia e convergem ao ressurgimento o fascismo. Embora não seja nova a artimanha de falsear informações para manipular comportamentos e obter vantagens, a extrema-direita inovou com a disseminação sistemática de desinformação para compartilhamento em massa, num cenário modificado por um monstruoso incremento no volume de dados (Big Data), pela conectividade permanente, pelo caráter exponencial com que a desinformação se propaga nas redes sociais e pelo abafamento das vozes dissonantes. É nesse contexto que, nos últimos anos, vem ganhando força um movimento global de desprestígio à democracia e ascensão da extrema-direita. Nutrida pelo ódio a "inimigos" midiaticamente confabulados, constituída pela exploração discursiva do medo e do ressentimento da classe média contra políticas públicas de redução das desigualdades e inclusão de minorias, e propulsionada pela estrutura fragmentária das redes sociais, a propaganda fascista tem fortalecido líderes autocráticos, com promessas de exterminar adversários, inaugurando um cenário de polarização política da sociedade, em que representantes são eleitos não por preferência dos votantes, mas pela sua capacidade de se opor aos candidatos com maior rejeição. Como as redes sociais são empreendimentos de grandes empresas, seu principal objetivo é otimizar a lucratividade, baseada no tempo de atenção gasto na plataforma. Por isso, seus algoritmos são programados para impulsionar conteúdos que mobilizem (res)sentimentos e emoções consonantes com a visão de mundo do usuário, reforçando convicções preconcebidas que se cristalizam em sistemas de crenças inatacáveis. Como os fatos são frequentemente incômodos e desagradáveis, é a desinformação que prospera no ambiente das novas mídias. Assim, a razão comunicativa vem sendo emparedada num labirinto de (des)informações e (res)sentimentos, dando lugar a uma nova categoria, aqui designada "emoção compartilhada". Obviamente, esse arranjo representa uma imensa ameaça à democracia e à paz social que esse sistema de governo era capaz de assegurar, justificando a urgente necessidade de regulamentar as redes sociais. Também se pôde concluir que o deslocamento dos centros de convivência do presencial para o virtual agrava a desunião da comunidade política e frustra o caráter humano da interação social. Diante disso, propõe-se que a promoção de interações comunicativas presenciais poderia resgatar as qualidades democráticas do debate mediante razões. Enfim, tudo indica que persiste na sociedade brasileira um anseio comum por um modelo de democracia que não se limite à legitimação formal de representantes pelo voto, aspiração política que conserva em si um elevado potencial de integração social, sugerindo que a saída para a atual crise política passa pela radicalização da democracia, com a multiplicação das instâncias de participação e a implementação efetiva dos pressupostos da democracia deliberativa conforme propugnada por Jürgen Habermas.